Você é uma menina feliz e tem uma risada que se engata noutra e vai saculejando o pequeno ventre até não mais poder. E então, grita “pára, por favor”, mas se não paro, porque gosto de ver você ficar mole de rir e de escutar seu suspiro no final.
Porque você é uma menina com uma flor e tem as mãos pequenas e gosta de brigadeiro, o que não é exclusividade, porque toda criança gosta. Mas você tem um jeito de demonstrar que gosta, que faz a gente querer enrolar outros cem brigadeiros só pra ver você juntar as mãozinhas e falar “ah, obrigada, papai”. E porque você chega em casa e vai logo brincar com o Arlequim, que é um cachorro muito carente porque fica o dia todo sozinho esperando você voltar.
E porque você sonha com a bicicleta nova e enquanto ela não chega, se diverte com suas bonecas pequenas e cheias de badulaques que você espalha pelo chão até ver o Arlequim fugir com um na boca e grita com jeito de dona: “Arlequinho!”. Porque você riu um riso inteligente quando pediu para eu abaixar, mas saiu um “abaça” e eu estendi os braços para abraçar. Você se divertiu tanto com o entendimento de que o som do que dizia era som de outra coisa. E porque você pega sua tiara surrada de tão velha e ajeita no cabelo limpinho, ainda molhado do banho e pergunta fazendo carinha de boneca: “fiquei linda?”.
E porque você inventa mil desculpas para não ir para a cama cedo e adia o sono até não aguentar mais. E porque você fala sem parar quando estamos no carro indo para a casa da vovó e de repente se cala porque caiu no sono de um segundo para o outro. E porque você quer ficar comigo e com a mamãe o tempo todo. E porque a mamãe e eu queremos você o tempo todo, que eu escrevo esta crônica para você, minha linda menina com uma flor que trouxe nos olhos o carinho de uma filha e nos braços o calor de mil carinhos, que eu escrevo um pouco de tudo que não cabe nesta página e no meu coração.
Afinal, pessoas perfeitas não existem.